Traduzido por George Agrippa Soros.

[Retirado do capítulo 9 de Gary Chartier & Charles Johnson. (2011). Markets Not Capitalism: Individualist Anarchism Against Bosses, Inequality, Corporate Power, and Structural Power. Livro disponível aqui. Uma versão diferente do artigo está disponível aqui.]

[N. do T.]: William Gillis, em seu “The Freed Market”, propõe uma distinção entre free market e freed market – inicialmente fruto de um erro de digitação ao adicionar um “d” em “free”. Então, apesar da fonia estranha que torna o título e outras passagens do texto artificiais, preferi seguir esse autor e traduzir freed market como “mercado liberto” em vez de “livre mercado”, em conformidade com outras traduções encontradas pela internet. Veja também a nota [1] de Chartier.

I. Introdução

Defensores dos mercados libertos (freed markets) têm boas razões para identificar sua posição como uma espécie de “anticapitalismo”.[1] Para explicar por que, eu distingo três potenciais significados de “capitalismo” antes de sugerir que indivíduos comprometidos com mercados libertos deveriam se opor ao capitalismo em meu segundo e terceiro sentidos. Então, apresento algumas razões para usar “capitalismo” como um rótulo para alguns dos arranjos sociais que os defensores do mercado-liberto deveriam rejeitar.

II. Três sentidos de “capitalismo”

Existem ao menos três sentidos distintos de “capitalismo”:[2]

capitalismo1: um sistema econômico que apresenta direitos de propriedade e trocas voluntárias de bens e serviços

capitalismo2: um sistema econômico que apresenta uma relação simbiótica entre grandes empresas e o governo

capitalismo3: dominação – de locais de trabalho, da sociedade e (se houver) do estado – por capitalistas (isto é, por um número relativamente pequeno de pessoas que controlam riquezas de investimento e os meios de produção)[3]

Capitalismo1 é apenas um mercado liberto; então se “anticapitalismo” significasse oposição ao capitalismo1, “anticapitalismo de livre-mercado” seria um oximoro. Mas os proponentes do anticapitalismo de livre-mercado não se opõem ao capitalismo1; em vez disso, eles se opõem ou ao capitalismo2 ou tanto ao capitalismo2 quanto o capitalismo3.[4]

Muitas pessoas parecem operar com definições que combinam elementos desses sentidos distintos de “capitalismo”. Tanto entusiastas quanto críticos do capitalismo parecem frequentemente querer dizer algo como “um sistema econômico que apresenta direitos de propriedade pessoal e trocas voluntárias de bens e serviços – e, portanto, previsivelmente, também dominação por capitalistas”. Acredito que existam boas razões para contestar a suposição de que a dominação por um pequeno número de pessoas ricas seja, em algum sentido, uma característica provável de um mercado liberto. Tal dominação, sugiro, é provável apenas quando a força e a fraude impedem a liberdade econômica.

III. Por que capitalismo2 e capitalismo3 são inconsistentes com os princípios do mercado-liberto

A. Introdução

Capitalismo2 e capitalismo3 são ambos inconsistentes com os princípios do mercado-liberto: capitalismo2 porque implica intervenção direta na liberdade de mercado, capitalismo3 porque depende de tal intervenção – tanto passada como contínua – e porque vai contra o compromisso geral com a liberdade que constitui o fundamento do apoio à liberdade de mercado em particular.

B. Capitalismo2 implica intervenção direta na liberdade de mercado

Capitalismo2 é claramente inconsistente com capitalismo1 e, então, com um mercado liberto. No capitalismo2, políticos intervêm nos direitos de propriedade pessoal e nas trocas voluntárias de bens e serviços para enriquecer a si próprios e quem eles representam, e grandes empresas influenciam os políticos a fim de promover a intervenção nos direitos de propriedade pessoal e nas trocas voluntárias para enriquecer a si próprios e seus aliados.

C. Capitalismo3 depende da intervenção passada e contínua na liberdade de mercado

Existem três maneiras pelas quais o capitalismo3 pode ser entendido como inconsistente com capitalismo1 e, então, com um mercado liberto. A primeira depende de uma visão plausível, mesmo que contestável, do funcionamento dos mercados. Chamemos essa visão de Mercados Minam Privilégios (MMP) (Markets Undermine Privilege [MUP]). De acordo com a MMP, em um mercado liberto, sem os tipos de privilégios concedidos aos beneficiários (geralmente bem relacionados) do poder do estado sob o capitalismo2, a riqueza seria amplamente distribuída e grandes empresas hierárquicas se provariam ineficientes e não sobreviveriam.

Tanto porque a maioria das pessoas não gostam de trabalhar em ambientes de trabalho hierárquicos quanto porque organizações mais horizontais e ágeis seriam muito mais viáveis do que organizações grandes e desengonçadas sem o apoio do governo a grandes empresas, a maioria das pessoas em um mercado liberto trabalhariam como autônomos ou em parcerias ou cooperativas. Existiriam muito menos grandes empresas, aquelas que ainda existiriam provavelmente não seriam tão grandes quanto os gigantes corporativos de hoje, e a riqueza social seria amplamente dispersa entre um vasto número de pequenas firmas.

Outros tipos de privilégios para os politicamente bem relacionados que tendem a tornar e manter as pessoas pobres – pense em licenças de ocupação e leis de zoneamento, por exemplo – não existiriam em um mercado liberto.[5] Então as pessoas comuns, mesmo aquelas na base da pirâmide econômica (economic ladder), teriam maior probabilidade de dispor de um nível de segurança econômica que lhes possibilitaria abandonar empregos em ambientes de trabalho desagradáveis, incluindo grandes empresas. E como uma sociedade livre não teria um governo com o suposto direito, muito menos com a capacidade, de intervir nos direitos de propriedade pessoal e nas trocas voluntárias, aqueles que ocupam o topo da pirâmide social no capitalismo3 não seriam capazes de manipular políticos para ganhar e manter riqueza e poder em um mercado liberto, de tal forma que a propriedade dos meios de produção não estaria concentrada em poucas mãos.

Além da intervenção contínua na liberdade de mercado, a MMP sugere que o capitalismo3 não seria possível sem atos passados de injustiça em grande escala. E ampla evidência de intervenção massiva nos direitos de propriedade e liberdade de mercado, intervenção que levou ao empobrecimento de um grande número de pessoas, na Inglaterra, nos Estados Unidos e em outros lugares.[6] Os defensores do mercado-liberto deveriam, portanto, rejeitar o capitalismo3, porque os capitalistas são capazes de governar apenas em virtude de violações em grande escala, sancionadas pelo estado, de direitos legítimos de propriedade.

D. O apoio ao capitalismo3 é inconsistente com o apoio à lógica subjacente do apoio à liberdade

Capitalismo3 pode ser considerado inconsistente com o capitalismo1 à luz da lógica subjacente do apoio aos mercados libertos. Sem dúvida, algumas pessoas favorecem os direitos de propriedade pessoal e trocas voluntárias – capitalismo1 – por interesse próprio, sem tentar integrar o apoio ao capitalismo1 em uma compreensão mais ampla da vida humana e interação social. Para outros, no entanto, o apoio ao capitalismo1 reflete um princípio subjacente de respeito pela autonomia e dignidade pessoal. Aqueles que adotam essa visão – defensores do que chamarei de Liberdade Abrangente (LA) (Comprehensive Liberty [CL]) – querem ver as pessoas livres para se desenvolver e prosperar como elas escolherem, de acordo com as suas próprias preferências (desde que não agridam os outros). Os proponentes da LA valorizam não apenas a liberdade contra a agressão, mas também a liberdade contra o tipo de pressão social que as pessoas podem exercer porque elas ou outras pessoas se envolveram ou se beneficiaram da agressão, assim como a liberdade contra pressão social não agressiva, mas sem razão – talvez mesquinha, arbitrária – que restringe as opções das pessoas e suas capacidades de moldar as suas vidas como desejam.

Valorizar enfaticamente diferentes tipos de liberdade não é o mesmo que aprovar os mesmos tipos de reparações a ataques a esses diferentes tipos de liberdade. Embora a maioria dos defensores da LA não sejam pacifistas, eles não querem ver discussões resolvidas sob a mira de uma arma; eles se opõem inequivocamente à violência agressiva. Então eles não supõem que insultos mesquinhos justifiquem respostas violentas. Ao mesmo tempo, no entanto, eles reconhecem que não faz sentido favorecer a liberdade como um valor geral enquanto trata os ataques não violentos à liberdade das pessoas como triviais. (Assim, eles favorecem uma variedade de respostas não violentas a tais ataques, incluindo humilhação pública, listas negras, greves, protestos, retenção de certificações voluntárias e boicote.)[7]

LA fornece, então, mais uma razão para se opor ao capitalismo3. A maioria das pessoas comprometidas com a LA acham a MMP muito plausível e, portanto, estarão inclinadas a pensar no capitalismo3 como um produto do capitalismo2. Mas a compreensão da liberdade como um valor multidimensional que pode estar sujeito a ataques tanto violentos quanto não violentos fornece uma boa razão para se opor ao capitalismo3, mesmo se – como é muito improvável – ele fosse ocorrer em completo isolamento do capitalismo2.

E. Conclusão

Capitalismo2 e capitalismo3 são ambos inconsistentes com os princípios do mercado-liberto: capitalismo2 porque implica intervenção direta na liberdade de mercado, capitalismo3 porque depende de tal intervenção – tanto passada como contínua – e porque vai contra o compromisso geral com a liberdade que constitui o fundamento do apoio à liberdade de mercado em particular.

IV. Por que defensores do mercado-liberto deveriam chamar o sistema a que eles se opõe de “capitalismo”

Dados os significados contraditórios de “capitalismo”, talvez pessoas sensíveis devam evitar usá-lo em qualquer caso. Mas “as palavras são conhecidas pela companhia que elas mantêm”;[8] então, embora eles certamente não devam usá-lo como um rótulo para o sistema que favorecem, existem boas razões para que os defensores dos mercados libertos, especialmente aqueles comprometidos com a LA, utilizem essa palavra para se referir ao que eles se opõem.[9]

  1. Para Enfatizar Especificamente a Indesejabilidade do Capitalismo3. Rótulos como “capitalismo de estado” e “corporativismo” capturam o que há de errado com o capitalismo2, mas não chegam bem ao problema do capitalismo3. Mesmo se, como parece plausível, a dominação por capitalistas requer uma explicação política – uma explicação em termos do mau comportamento independente dos políticos e da manipulação dos políticos por líderes de empresas[10] –, vale a pena rejeitar a dominação das grandes empresas para além de contestar a simbiose governo-empresa. Na medida em que aqueles que possuem e lideram grandes empresas são frequentemente rotulados de “capitalistas”, identificar como “capitalismo” o que os proponentes da liberdade se opõem ajuda a destacar adequadamente a sua crítica ao capitalismo3.
  2. Para Diferenciar Proponentes dos Mercados Libertos de Entusiastas Vulgares do Mercado. A bandeira “capitalista” é frequentemente brandida com entusiasmo por pessoas que parecem inclinadas a confundir o apoio a mercados libertos com o apoio ao capitalismo2 e capitalismo3 – talvez ignorando a realidade ou a natureza problemática de ambos, talvez mesmo celebrando o capitalismo3 como apropriado à luz do caráter supostamente admirável dos titãs empresariais. Opor-se ao “capitalismo” ajuda a garantir que os defensores dos mercados libertos não sejam confundidos com esses defensores vulgares da liberdade-para-a-elite-de-poder.
  3. Para Enfatizar Que o Mercado Liberto é Realmente um Ideal Desconhecido. De maneira semelhante, dada a frequência com que a ordem econômica contemporânea nas sociedades ocidentais é rotulada de “capitalismo”, qualquer um que reconheça a vasta diferença entre ideais da liberdade e uma realidade econômica distorcida pelo privilégio e deformada por atos anteriores de desapropriação violenta terá boas razões para se opor ao que é comumente chamado de capitalismo, ao invés vez de abraçá-lo.
  4. Para Contestar uma Concepção da Economia de Mercado que Trata o Capital como Mais Fundamental que o Trabalho. Múltiplos fatores de produção – incluindo especialmente o trabalho – contribuem para o funcionamento de uma economia de mercado. Referir-se a tal economia como “capitalista” é implicar, incorretamente, que o capital desempenha o papel mais central em uma economia de mercado e que o “capitalista”, o ausente proprietário da riqueza de investimento, é no fim das contas mais importante do que as pessoas que são as fontes do trabalho. Defensores dos mercados-libertos deveriam rejeitar essa visão imprecisa.[11]
  5. Para Reivindicar “Socialismo” para os Radicais do Mercado-Liberto. “Capitalismo” e “socialismo” são caracteristicamente vistos como formando um par de oposição. Mas foi precisamente o rótulo “socialista” que um proponente radical dos mercados libertos, Benjamin Tucker, possuía na época em que esses termos estavam sendo intensamente debatidos e definidos.[12] Tucker claramente não via conflito entre o seu intenso compromisso com mercados libertos e a sua filiação à Primeira Internacional. Isso porque ele entendia o socialismo como uma questão de libertar os trabalhadores da opressão de aristocratas e executivos de empresas, e ele – plausivelmente – acreditava que acabar com os privilégios conferidos pelo estado às elites econômicas seria a maneira mais eficaz – e mais segura – de alcançar o objetivo de libertação do socialismo. Opor-se ao capitalismo ajuda a ressaltar o lugar importante de radicais como Tucker na linhagem do movimento contemporâneo a favor da liberdade e a fornecer aos defensores da liberdade dos dias atuais um argumento persuasivo para capturar o rótulo socialista dos socialistas de estado. (Isso é especialmente apropriado porque defensores da liberdade acreditam que a sociedade – pessoas conectadas cooperando livre e voluntariamente –, e não o estado, deve ser vista como a fonte de soluções para problemas humanos. Assim, pode-se dizer razoavelmente que eles favorecem o socialismo, não como uma espécie de, mas como uma alternativa ao estatismo.)[13] Abraçar o anticapitalismo ressalta o fato de que mercados libertos fornecem uma maneira de alcançar objetivos socialistas – promovendo o empoderamento dos trabalhadores e a ampla dispersão de propriedade de e controle sobre os meios de produção – usando meios de mercado.[14]
  6. Para Expressar Solidariedade aos Trabalhadores. Se a MMP estiver correta, a capacidade de grandes empresas – “capital” – de maximizar a satisfação das suas preferências mais plenamente do que os trabalhadores são capazes de maximizar a satisfação das suas é um resultado da simbiose estado-empresa que é inconsistente com os princípios do mercado-liberto. E, como questão de apoio a LA, muitas vezes há mais razões para ficar do lado dos trabalhadores quando eles estão sendo abusados (pushed around), mesmo que de forma não agressiva. Na medida em que os patrões que os trabalhadores se opõem são frequentemente chamados de “capitalistas”, de modo que “anticapitalismo” parece um rótulo natural para sua oposição a esses patrões, e na medida em que mercados libertos – em contraste com o capitalismo2 e o capitalismo3 – aumentaria drasticamente as oportunidades para os trabalhadores simultaneamente moldarem os contornos de suas próprias vidas e vivenciarem uma prosperidade e segurança econômica significativamente maiores, abraçar o “anticapitalismo” é uma maneira de sinalizar claramente a solidariedade aos trabalhadores.[15]
  7. Para se Identificar com as Preocupações Legítimas do Movimento Anticapitalista Global. Possuir [o termo] “anticapitalismo” também é uma maneira, mais ampla, de se identificar com as pessoas comuns ao redor do mundo que expressam sua oposição ao imperialismo, ao crescente poder de corporações multinacionais em suas vidas e à sua própria crescente vulnerabilidade econômica ao nomear seu inimigo como “capitalismo”. Talvez alguns deles defendam considerações teóricas imprecisas de suas circunstâncias, de acordo com as quais realmente é um sistema de mercado-liberto – capitalismo1 – que deveria ser entendido como por trás do que eles se opõe. Mas para muitos deles, rejeitar o “capitalismo” não significa realmente se opor a mercados libertos; significa usar um rótulo conveniente fornecido por críticos sociais que estão preparados – como defensores da liberdade muito frequentemente se negaram lamentavelmente a fazer – a apoiá-los ao contestar as forças que parecem empenhadas em deformar suas vidas e as dos outros. Os defensores da liberdade têm uma oportunidade de ouro de construir pontos em comum com essas pessoas, concordando com elas sobre o erro de muitas das situações que enfrentam enquanto fornecem uma explicação baseada na liberdade para essas situações e um remédio para os problemas envolvidos (attendant).[16]

V. Conclusão

Trinta e cinco anos atrás, o grande herói libertário Karl Hess escreveu: “Eu perdi minha fé no capitalismo” e “resisto a esse estado-nação capitalista”, observando que ele “se afastou da religião do capitalismo.”[17] Distinguir três sentidos de “capitalismo” – ordem de mercado, conluio governo-empresa e dominação por capitalistas – ajuda a clarificar por que alguém, como Hess, pode consistentemente estar comprometido com a liberdade enquanto expressa uma ardente oposição a algo chamado “capitalismo”. Faz sentido que os defensores do mercado-liberto se oponham tanto à intervenção de políticos e líderes empresariais na liberdade de mercado quanto à dominação social (agressiva ou não) dos líderes empresariais. E faz sentido que eles nomeiem aquilo que se opõe como “capitalismo”. Fazê-lo chama a atenção para as raízes radicais do movimento a favor da liberdade, enfatiza o valor de entender a sociedade como uma alternativa ao estado, destaca a diferença entre o ideal de mercado-liberto e a realidade atual, ressalta o fato de que os proponentes da liberdade se opõem a restrições não agressivas assim como agressivas à liberdade, garante que os defensores da liberdade não sejam confundidos com pessoas que usam a retórica de mercado para sustentar um status quo injusto e expressa solidariedade entre os defensores dos mercados libertos e os trabalhadores – assim como as pessoas comuns ao redor do mundo que usam “capitalismo” como um rótulo abreviado para o sistema mundial que restringe sua liberdade e impede o desenvolvimento de (sunts) suas vidas. Defensores do mercado-liberto devem abraçar o “anticapitalismo” a fim de sintetizar e destacar o seu total compromisso com a liberdade e a sua rejeição de falsas alternativas que usam o discurso da liberdade para encobrir a aceitação da exclusão, submissão e privação.[18]

Notas

[1] Sobre “mercados libertos”, veja William Gillis, “The Freed Market”, cap. 1 (19–20), em Chartier, Gary & Johnson, Charles. [2011]. Markets Not Capitalism: Individualist Anarchism Against Bosses, Inequality, Corporate Power, and Structural Power; sobre “anticapitalismo de livre mercado”, veja Kevin A. Carson, Mutualist Blog: Free Market Anticapitalism (n.p.) <http://mutualist.blogspot.com> (Dec. 31, 2009).

[2] Cp. Charles Johnson, “Anarquistas por La Causa”, Rad Geek People’s Daily (n.p., March 31, 2005) <http://radgeek.com/gt/2005/03/31/anarquistas_por/> (Dec. 31, 2009); Roderick T. Long, “POOT MOP Redux”, Austro-Athenian Empire (n.p., June 22, 2009) <http://aaeblog.com/2009/06/22/pootmop-redux/> (Dec. 31, 2009); Fred Foldvary, “When Will Michael Moore Nail Land Speculators?”, The Progress Report (n.p., Oct. 19, 2009) <http://www.progress.org/2009/fold635.htm> (Jan. 18, 2010). “Capitalismo” no terceiro sentido de Johnson se refere a “trabalho orientado ao chefe” (“boss-directed labor”), enquanto a expressão paralela de Long, “capitalismo-2”, denota “controle dos meios de produção por alguém que não seja os trabalhadores – isto é, pelos proprietários capitalistas”. A proposta paralela de Foldvary é “exploração do trabalho pelos grandes proprietários do capital”. Estou inclinado a pensar que muitos daqueles que empregam “capitalismo” no sentido pejorativo pretendem abranger o domínio pelos capitalistas de todas as instituições sociais, e não apenas dos locais de trabalho, apesar deles sem dúvida verem a dominação da sociedade e a dominação dos locais de trabalho como conectadas. De qualquer forma, supor que eles o façam pode fornecer uma justificativa tênue para distinguir a minha tipologia daquelas oferecidas por Johnson, Long e Foldvary. Para uma discussão anterior proporcionada por um libertário acerca do caráter inerentemente ambíguo de “capitalismo”, veja Clarence B. Carson, “Capitalism: Yes and No”, The Freeman: Ideas on Liberty 35.2 (Feb. 1985): 75–82 (Foundation for Economic Education) <http://www.thefreemanonline.org/columns/capitalism-yes-and-no> (March 12, 2010); agradeço a Sheldon Richman por me informar sobre esse artigo.

[3] Enquanto o capitalismo2 ocorre sempre que as empresas e o estado estão conspirando juntos, no capitalismo3 as empresas estão claramente no topo.

[4] Não está claro quando “capitalismo” foi empregado pela primeira vez (o Oxford English Dictionary identifica William Makepeace Thackeray como quem primeiro utilizou o termo: veja The Newcomes: Memoirs of a Most Respectable Family, 2 vols. [London: Bradbury 1854–5] 2:75). Em contrapartida, “capitalista” como um termo pejorativo tem uma história mais antiga, surgindo já em 1792 e repetidamente desempenhando uma função na obra do socialista de livre-mercado Thomas Hodgskin: veja, por exemplo, Popular Political Economy: Four Lectures Delivered at the London Mechanics Institution (London: Tait 1827) 5, 51–2, 120, 121, 126, 138, 171 (“capitalistas gananciosos”!), 238–40, 243, 245–9, 253–7, 265; The Natural and Artificial Right of Property Contrasted: A Series of Letters, Addressed without Permission to H. Brougham, Esq. M.P. F.R.S. (London: Steil 1832) 15, 44, 53, 54, 67, 87, 97–101, 134–5, 150, 155, 180. O uso pejorativo ocorre quase oitenta vezes ao longo das trinta e poucas páginas do Labour Defended against the Claims of Capital, or, The Unproductiveness of Capital Proved (London: Knight 1825) de Hodgskin. Também é possível encontrar “capitalista” empregado de maneiras menos-que-lisonjeiras por outro notável liberal clássico: veja John Taylor, Tyranny Unmasked (Washington: Davis 1822).

[5] Para uma devastadora crítica às regras – frequentemente apoiadas por políticos em dívida com pessoas ricas e bem relacionadas que esperam se beneficiar deles – que sistematicamente tornam e mantêm as pessoas pobres, veja Charles Johnson, “Scratching By: How Government Creates Poverty As We Know It”, The Freeman: Ideas on Liberty 57.10 (Dec. 2007): 33–8 (Foundation for Economic Education) <http://www.thefreemanonline.org/featured/scratching-by-how-govern-ment-creates-poverty-as-we-know-it> (Jan. 2, 2010).

[6] Cp. Albert Jay Nock, Our Enemy the State (New York: Morrow 1935); Kevin A. Carson, “The Subsidy of History”, The Freeman: Ideas on Liberty 58.5 (June 2008): 33–8 (Foundation for Economic Education) <http://www.the-freemanonline.org/featured/the-subsidy-of-history> (Dec. 31, 2009); Joseph R. Stromberg, “The American Land Question”, The Freeman: Ideas on Liberty 59.6 (July–Aug. 2009): 33–8 (Foundation for Economic Education) <http://www.thefreemanonline.org/featured/the-american-land-question> (Dec. 31, 2009).

[7] Cp. Charles Johnson, “Libertarianism through Thick and Thin”, Rad Geek People’s Daily (n.p., Oct. 3, 2008) <http://www.radgeek.com/gt/2008/10/03/libertarianism_through> (Dec. 31, 2009); Kerry Howley, “We’re All Cultural Libertarians”, Reason (Reason Foundation, Nov. 2009) <http://www.reason.com/archives/2009/10/20/are-property-rights-enough> (Dec. 31, 2009).

[8] Conheci essa expressão graças a Nicholas Lash, Believing Three Ways in One God: A Reading of the Apostles’ Creed (Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press 1992); veja, por exemplo, 12. Mas parece, descobri posteriormente, ter uma proveniência legal e ser uma tradução grosseira da expressão em latim noscitur a sociis.

[9] De fato, os proponentes dos mercados libertos, e portanto do capitalismo1, poderiam obviamente se referir ao capitalismo2 ao menos como “capitalismo de estado”, “capitalismo corporativo”, “capitalismo realmente existente” ou “corporativismo”. Mas fazê-lo não deixaria clara a sua oposição ao capitalismo3.

[10] Veja, por exemplo, Roderick T. Long, “Toward a Libertarian Theory of Class”, Social Philosophy and Policy 15.2 (Sum. 1998): 303–49; Tom G. Palmer, “Classical Liberalism, Marxism, and the Conflict of Classes: The Classical Liberal Theory of Class Conflict”, Realizing Freedom: Libertarian Theory, History, and Practice (Washington: Cato 2009) 255–76; Wally Conger, Agorist Class Theory: A Left Libertarian Approach to Class Conflict Analysis (n.p., n.d.) (Agorism.info, n.d.) <http://www.agorism.info/AgoristClassTheory.pdf> (Jan. 18, 2010); Kevin A. Carson, “Another Free-for-All: Libertarian Class Analysis, Organized Labor, Etc.”, Mutualist Blog: Free-Market Anticapitalism (n.p., Jan 26, 2006) <http://www.mutualist.blogspot.com/2006/01/another-free-for-all-libertarian-class.html> (Jan. 18, 2010); Sheldon Richman, “Class Struggle Rightly Conceived”, The Goal Is Freedom (Foundation for Economic Education, July 13, 2007) <http://www.fee.org/articles/in-brief/the-goal-is-freedom-class-struggle-rightly-conceived> (Jan. 18, 2010); Walter E. Grinder & John Hagel, “Toward a Theory of State Capitalism: Ultimate Decision Making and Class Structure”, Journal of Libertarian Studies 1.1 (1977): 59–79.

[11] Veja Kevin A. Carson, “Capitalism: A Good Word for a Bad Thing”, Center for a Stateless Society (Center for a Stateless Society, Mar. 6, 2010) <http://www.c4ss.org/content/1992> (Mar. 6, 2010).

[12] Veja Benjamin R. Tucker, “State Socialism and Anarchism: How Far They Agree and Wherein TheyDiffer”, Instead of a Book: By a Man Too Busy to Write One (New York: Tucker 1897) (Fair-Use.Org, n.d.) <http://fair-use.org/benjamin-tucker/instead-of-a-book/> (Dec.31, 2009). Cp. Kevin A. Carson, “Socialist Definitional Free-for-All: Part II”, Mutualist Blog: Free Market Anti-Capitalism (n.p., Dec. 8, 2005) <http://mutualist.blogspot.com/2005/12/socialist-definitional-free-for-all_08.html> (Dec.31, 2009); Brad Spangler, “Re-Stating the Point: Rothbardian Socialism”, BradSpangler.Com (n.p., Oct. 10, 2009) <http://bradspangler.com/blog/archives/1458> (Dec.31, 2009); Gary Chartier, Socialist Ends, Market Means: 5 Essays (Tulsa, OK: Tulsa Alliance of the Libertarian Left 2009) (Center for a Stateless Society, Aug. 31, 2009) <http://c4ss.org/wp-content/uploads/2009/08/ Garychartier_forprint_binding .pdf> (Dec. 31, 2009).

[13] Agradeço a Sheldon Richman por me ajudar a perceber esse ponto.

[14] Alex Tabarrok, “Rename Capitalism Socialism?” Marginal Revolution (n.p., Jan. 25, 2010) <http://www.marginalrevolution.com/marginalrevolu-tion/2010/01/rename-capitalism-socialism.html> (Feb. 3, 2010), sustenta: “o capitalismo é um sistema verdadeiramente social, um sistema que une o mundo em cooperação, paz e comércio. Assim, se tudo fosse tabula rasa, socialismo poderia ser um bom nome para o capitalismo. Mas já é tarde demais (that boat has sailed).” Parece-me que Tabarrok não entende o principal ponto do argumento sobre “capitalismo”, que é precisamente se o que é regularmente rotulado de “capitalismo” pela maioria das pessoas no mundo realmente é “um sistema verdadeiramente social … que une o mundo em cooperação, paz e comércio”.

[15] Cp. Sheldon Richman, “Workers of the World Unite for a Free Market”, The Freeman: Ideas on Liberty (Foundation for Economic Education, Dec. 18, 2009) <http://www.thefreemanonline.org/tgif/workers-of-the-world-unite/> (Dec. 31, 2009).

[16] “‘Se você fosse perguntar “O que é anarquismo?”, iríamos todos discordar’, disse Vlad Bliffet, membro do coletivo que organizou a … [2010 Los Angeles Anarchist Bookfair]. Embora a maioria dos anarquistas concordem com o princípio básico de que o mundo seria melhor sem hierarquia e sem capitalismo, disse ele, eles têm teorias concorrentes sobre como alcançar essa mudança” (Kate Linthicum, “Book Fair Draws an Array of Anarchists”, LATimes.Com [Los Angeles Times, Jan. 25, 2010] <http://www.latimes.com/news/local/la-me-anar-chists25-2010jan25,0,3735605.story?track=rss> [Jan. 27, 2010]). Dado o foco na oposição à hierarquia do mundo real, eu suspeito, sem evidências, que a principal objeção de Bliffet não era ao capitalismo como um sistema de propriedade e trocas em abstrato – capitalismo1 – mas em vez disso à dominação social pelos capitalistas – capitalismo3. A incapacidade de perceber este ponto tenderá a impedir uma aliança que seria natural focada em questões que variam da guerra à tortura à vigilância às drogas à liberdade de expressão ao corporativismo a bailouts à descentralização ao alcance do estado administrativo.

[17] Karl Hess, Dear America (New York: Morrow 1975) 3, 5. De maneira ainda mais direta, Hess escreve: “O que aprendi sobre o capitalismo corporativo, grosso modo, é que ele é um ato de roubo, em massa, por meio do qual muito poucos vivem muito bem do trabalho, da invenção e da criatividade de muitos outros. É o Grande Furto (Grand Larceny) de nosso tempo particular na história, o Grande Furto em que um futuro de liberdade que poderia ter seguido o colapso do feudalismo foi roubado bem debaixo de nossos narizes por um novo bando de patrões fazendo as mesmas coisas de sempre” (1). (O que complica a história é o fato que Hess posteriormente escreveu Capitalism for Kids: Growing up to Be Your Own Boss [Wilmington, DE: Enterprise 1987].)

[18] Brian Doherty, “Ayn Rand: Radical for Something Other Than Capitalism?”, Hit and Run: Reason Magazine (Reason Foundation, Jan, 20, 2010) <http://www.reason.com/blog/2010/01/20/ayn-rand-radical-for-something> (Jan. 21, 2010), relata: “Tenho estado satisfeito empregando capitalismo no sentido ideal de Rand como aquele que os libertários americanos defendem …, o que penso ser verdadeiro e não penso que represente um problema intelectual, histórico ou de marketing tão sério como Long diz…”. Doherty opina que Long “é muito descuidado (blithe) em sua conclusão de que o fato que a prosperidade do Ociente pode ser atribuída à medida em que [o Ocidente] honrou os direitos de propriedade, livre comércio e um sistema de preços merece apenas o status intelectual daquela parte da nossa cultura que ‘não está doente’”. Não está claro para mim o que significa dizer que “o sentido ideal de Rand … [é] verdadeiro” (de que maneira definições ou sentidos são verdadeiros?), e tendo a suspeitar que um conjunto de afirmações praxeológicas, morais e históricas fornece uma base confiável para a crítica libertária de esquerda ao “capitalismo” e para o diagnóstico de boa parte da ordem econômica que continua doente no Ocidente contemporâneo. (Isso, preciso enfatizar, não equivale a uma avaliação positiva das alternativas realmente existentes.)

Deixe um comentário